Perfumada, unhas feitas, roupa florida e lacinho no cabelo. Foi assim que dona Eurides Fagundes, de 118 anos, recebeu o G1 na última terça-feira (18), na Associação Solidariedade Grupo de Apoio ao Paciente com Câncer (Asgap), no bairro da Cidade Nova, em Salvador. Por conta da idade, Vovó, como é carinhosamente chamada por todos na instituição, anda devagar, escuta com dificuldade e fala baixo. “A menina veio aqui e fez a minha unha para o meu aniversário. Foi quinta-feira [6 de dezembro]”, disse animada.
A certidão de nascimento mostra a data de 6 de dezembro de 1894. Ela nasceu em Salvador, não teve filhos e não casou. Foi morar na casa de apoio após ser curada de um câncer no colo do útero. Hoje, ela não faz muitas atividades e tem a alimentação controlada, mas sofre de diabetes e pressão alta, ambos controlados com medicação. “Ainda quero viver mais, se Deus quiser”, diz confiante.
Oficialmente, a pessoa mais velha do mundo é um japonês de 115 anos. Dona Eurides diz que não faz comparações e nem toma conhecimento do “ranking”. Ela gosta mesmo de posar para fotos, de conversar, assistir futebol, o Jornal Nacional e o Domingão do Faustão. “Eu não faço nada aqui. Não deixam eu varrer uma casa, lavar nem enxugar um prato, o que faço é deitar, dormir, descansar as costelas”, afirma.
Vovó é muito querida na casa de apoio e também pela família, que mora em Candeias, na região metropolitana. “É relação de vó, de tia, de mãe. Ela fica muito alegre quando vem para cá, a casa fica cheia, ela fica feliz. Ela sempre foi alegre, toda a vida. Em casa ela fazia tudo, lavava, passava, gostava de ir para a rua”, diz Nilza Maria Santos, parente de Vovó.
A expectativa da centenária é grande para rever a família. “Eles vieram no meu aniversário e vêm me buscar para passar o Natal e o Ano Novo com eles. Sempre passo com eles”, diz.
A cozinheira Ester Lívia, que trabalha como voluntária na Asgap há três meses, diz que se surpreendeu com a disposição de Dona Eurides quando chegou à instituição. “Eu fiquei impressionada com o jeito dela. Não pode ver uma máquina [fotográfica] que se anima. Ela é tranquila, come direitinho, gosta de conversar”, disse.
Maria Helena, auxiliar administrativa e também acompanhante voluntária de pacientes da Asgap detalha um pouco mais o comportamento de Vovó. “Todo mundo aqui é acompanhante dela. O tempo todo ela brinca, canta gosta de rezar o terço todas as tardes”, relata.
“Ela é uma maravilha de pessoa. É tão agradável, tão boa, sabe conquistar as pessoas”, diz Dete Ferreira, acompanhante de Vovó que é chamada pela centenária de “neta Dete”.
O vice-presidente da Associação, Jorge Brito, diz que Vovó sempre foi especial para a instituição. “Ela é um caso muito especial, chegou aqui logo quando a Asgap começou, hoje ela é um ícone, é quem faz a energia ficar mair positiva lá. Ela é uma figura extraordinária”, afirmou.
Asgap
O Grupo de Apoio ao Paciente com Câncer, que deu origem à Asgap, foi criado em 1993. Dois anos depois, a associação começou a funcionar para dar assistência a pacientes com câncer que moram no interior da Bahia. Localizada na Ladeira do Ipiranga, n° 128, no bairro de Cidade Nova, na capital baiana, a instituição é mantida com doações e pelo trabalho de voluntários. Hoje, a Asgap tem capacidade para acolher 80 pacientes, que só podem ficar no local com acompanhante.
Doações de roupas, sapatos, alimentos e notas fiscais podem ser levadas até a sede do grupo na Cidade Nova. Quem quiser fazer doações em dinheiro pode buscar informações através do telefone 71 3381-1492 ou pelo site http://asgap.com.br/
Fonte: G1