Salvador tem hoje mais de 84 mil animais – entre cães e gatos – vivendo nas ruas. Muitos em situação de completo abandono e precisando de cuidados por conta da saúde debilitada.
A situação atual revela dois sérios problemas: o descontrole populacional dos animais de rua e a falta de espaços gratuitos para cuidar da saúde dos bichos.
“Estimamos que esse número seja ainda maior. O que está em questão não é apenas a atenção à saúde e o bem-estar dos animais, mas a prevenção de zoonoses e os cuidados com a saúde humana”, diz a presidente da Associação Brasileira Protetora dos Animais – seção Bahia (ABPA-BA), Patruska Barreiros.
As zoonoses são doenças transmitidas ao ser humano por animais. “Animais tratados, vermifugados e vacinados, que vivem em boas condições de higiene, dificilmente transmitirão doenças às pessoas. O problema é que muitos deles não têm a mínima assistência”, diz ela.
Entidades protetoras dos animais – ABPA, Terra Verde Viva, Cuidar É o Bicho, entre outras – lutam pela implantação de um hospital veterinário público em Salvador.
“A situação é crítica. A criação de um hospital veterinário gratuito é uma questão de saúde pública”, afirma a presidente da ONG Terra Verde Viva, Ingrid Teixeira.
Um projeto – que inclui a criação de um hospital público veterinário gratuito em Salvador e o serviço de castração e vacinação nos bairros (Castramóvel) – de autoria da vereadora Ana Rita Tavares (PV), aguarda parecer da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara Municipal. A vereadora também entregou ao secretário da Saúde da cidade de Salvador, José Antônio Rodrigues Alves, um projeto executivo que sugere à prefeitura aproveitar a estrutura do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) para a criação do hospital.
“O CCZ tem uma estrutura no Trobogy [região da Av. Paralela] e poderíamos aproveitar o espaço. Isso reduziria os custos”, diz a vereadora.
Por meio da assessoria de imprensa, a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) informou que o projeto ainda está sob análise: “O orçamento de 2013 já foi fechado. Caso a prefeitura de Salvador aprove o projeto será com o orçamento do próximo ano, mas ainda não temos parecer”.
A secretaria comunicou, no entanto, que está adaptando um veículo para atuar com várias atividades para zoonoses, incluindo castração, que deve estar funcionando em 60 dias.
O CCZ também pretende ampliar a castração cirúrgica na sede do órgão para dar conta da demanda. Hoje, o município oferece cerca de 250 cirurgias a cada mês.
Estrutura – De acordo com o projeto, o hospital veterinário público de Salvador prevê atendimento diário de 40 animais (1.120 animais/mês; 14.600 animais/ano), entre pequenos e de grande porte.
O funcionamento ocorrerá de segunda a domingo, para todos os atendimentos clínicos gerais, especialidades, exames, tratamentos e intervenções cirúrgicas.
Além disso, funcionará 24 horas para internações, UTIs e casos de emergência. O hospital também contará com unidade de resgate móvel (ambulância) tanto para os animais de pequeno quanto de grande porte. Para a construção de um hospital-modelo deste porte, estima-se um investimento de
R$ 10 milhões.
A vereadora conta que buscou referência para elaborar o projeto no Hospital Veterinário Público de São Paulo, a única unidade totalmente gratuita para animais em funcionamento no Brasil.
Desde a inauguração, em julho do ano passado, foram realizados mais de 13 mil consultas e retornos; 27 mil exames laboratoriais; quase 40 mil procedimentos de administração de medicamentos e 5,5 mil curativos.
O hospital paulista é fruto de uma parceria entre a Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais (Anclivepa) e o município, que remunera a associação pelo serviço. O valor gira em torno de R$ 600 mil por mês.
Recurso – O Ministério da Saúde libera um recurso anual no valor de R$ 1 milhão para a manutenção e implementação das atividades de controle, prevenção e combate à dengue, raiva, leptospirose, esquistossomose, chagas e leishmaniose (zoonoses).
De acordo com a SMS, entretanto, esse recurso não pode ser utilizado para ajudar na possível implantação do hospital para os bichos.
Segundo a Constituição Federal, diz o comunicado do órgão, recursos do SUS devem ser utilizados para proteção e recuperação da saúde do homem, não se aplicando a despesas relacionadas a outras políticas públicas que atuam sobre determinantes sociais e econômicas, ainda que incidentes sobre as condições de saúde da população.
Fonte: Uol.com.br