Imóveis são abandonados na orla de Salvador

O abandono da orla de Salvador não é responsabilidade direta apenas do poder público. Muitos proprietários de prédios privados, aparentemente abandonados, colaboram para a depreciação de uma área que deveria ser atração turística.

Além de tornar a orla ainda mais feia, os edifícios “esquecidos” pelos seus donos, prejudicam seus vizinhos, que além de ter seus imóveis desvalorizados, ainda correm risco de contrair doenças e até de ter prejuízos decorrentes de possíveis desabamentos. “Há anos colocaram escoras e algumas delas já caíram. Eu tenho apartamentos para alugar no prédio vizinho e encontro muita dificuldade de alugá-los; as pessoas têm medo”, conta o corretor Joel Vieira, se referindo a um prédio abandonado, em frente à praia de Armação, próximo ao supermercado Bompreço.

O condomínio em que Vieira tem oito apartamentos para alugar é o Residencial Brisa do Mar, que fica ao lado do prédio abandonado. Segundo ele, o prédio está abandonado há cerca de oito anos e à medida que o tempo passa mais motivos tem os vizinhos para se preocupar. “Desvaloriza o nosso condomínio, pois está ao lado de uma estrutura feia e que corre risco de cair. Não tem como esconder e mesmo sabendo que não é esconderijo para marginais, pois tem um segurança, quem o vê só imagina coisa ruim”, diz.

O corretor informa ainda que o prédio abandonado está à venda há algum tempo. “Ouvi falar que estão querendo mais de R$ 3milhões, mas é difícil vender porque tem uma dívida de R$ 1,5 milhão em IPTU. O que não entendo é como se deve tanto em IPTU e nada é feito pelo governo”, questiona.

Segundo a assessoria da Secretaria Municipal da Fazenda, a falta de pagamento de IPTU pode levar a perda do imóvel, mas o processo é lento. Depois de dois anos a dívida passa a ser responsabilidade da Procuradoria Geral do Município (PGM) e a ela é adicionado os encargos jurídicos. Se a dívida não for paga, a PGM pode até tomar o imóvel para, através de leilão, ressarcir o município.

Na Pituba, um prédio abandonado além de se destacar pelo aspecto de abandono vem trazendo muitos inconvenientes para os vizinhos. Localizado na Avenida Octávio Mangabeira, em frente ao Parque do Sol, o prédio, cuja reforma está interrompida há anos, acumula ratos e muita sujeira que vai parar no condomínio ao lado, Mirante do Parque. “Tivemos que colocar um gato aqui no playground para poder diminuir o número de ratos, e ainda bem que deu certo, porque era cada bicho grande de fazer medo”, conta o zelador Douglas Nunes dos Santos.





O morador Marcio Brito aponta ainda outros problemas trazidos pelo edifício abandonado. “Moro no primeiro andar e o apartamento recebe muita poeira que vem da sujeira acumulada no prédio. Temos que limpar o apartamento duas vezes por dia e o que é branco na casa fica muito sujo porque é uma poeira escura”, conta. Segundo ele, o prédio já foi invadido anteriormente e, apesar de haver um segurança, faz muito medo aos moradores do condomínio. “Nunca sabemos o que pode sair dali”, disse, acrescentando ainda que já acionou a prefeitura, mas que nada adiantou.

O sentimento de impotência dos vizinhos em casos como esses é bem simbolizado pelo que fez a dona de um Pet Shop em Patamares. Seu empreendimento convive há 13 anos com um shopping abandonado na esquina da Avenida Octávio Mangabeira com a Avenida Pinto de Aguiar. Para diminuir o número de ratos e moscas, a veterinária, que pediu para não se identificar, entrou, há quinze dias no prédio abandonado com uma equipe de trabalhadores e fez uma limpeza no local. “Tive que tomar esta atitude porque não podemos fazer mais nada para defender nosso negócio; não sabemos de quem é e a prefeitura diz que nada pode ser feito por se tratar de uma imóvel particular”, conta.

Ela conta ainda que o fato do imóvel ficar aberto, mesmo com um vigilante, acaba sendo usado por “todo tipo de gente”. Para ela, alguma coisa deveria ser feito, não só por ser uma situação que prejudica o seu empreendimento. “Se você vai a um país desenvolvido não encontra este tipo de situação, ainda mais em uma orla de uma cidade que depende tanto do turismo”, aponta.

Na praia de Pituaçu, duas casas vizinhas, localizadas no canteiro central da Avenida Octávio Mangabeira, são imóveis que chamam a atenção, não só pela localização privilegiada como também pelo avançado estado de deterioração. Numa delas mora um rapaz que toma conta das duas. Ele nega que as casas estejam abandonadas e mostra uma placa de venda na porta de uma delas.

O gerente de uma locadora de veículos, localizada ao fundo das casas, Pedro Nascimento, diz que as vê de duas maneiras. “Por um lado, são casas muito deterioradas e nada de bonitas para uma orla. Por outro lado, por haver um rapaz morando nelas, acaba sendo dois olhos a mais perto da locadora, ou seja, um pouco mais de segurança, já que a área é um pouco deserta”, diz. Ele, no entanto, afirma que seria muito melhor que fossem imóveis compatíveis com o local. “Temos consciência que tem gente que acaba com receio de vir aqui por ver aquelas casas que parecem abandonadas”, conta.

A Superintendência de Controle e Ordenamento do Solo do Município (Sucom) confirmou, através de sua assessoria, que muito pouco pode ser feito nos casos dos prédios abandonados, por se tratar de imóveis particulares. O órgão pode, no máximo, notificar os proprietários para que eles tomem providências que venham evitar prejuízos a terceiros. O órgão não pode impor que o proprietário acabe a obra interrompida ou que venda o imóvel.

Fonte: Tribuna da Bahia





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